Existe alguma possibilidade de que os indivĂduos e os grupos, como grupos, possam sair desses campos traumĂĄticos (de conflitos e guerras) para que dessa forma os antigos traumas coletivos cheguem ao seu fim?
Nas constelaçÔes familiares tentei este enfoque. Podemos observar que os representantes de grupos de perpetradores, como por exemplo, a Guarda Vermelha da Revolução Cultural Chinesa ou os soldados japoneses que participaram na violação de Nanking, permaneciam impassĂveis diante das vĂtimas, continuavam no seu campo. A reconciliação somente era possĂvel dentro do campo das vĂtimas.
Como exemplo: o representante do avĂŽ de uma cliente, que durante essa massacre foi assassinado com um tiro pelos japoneses e que na famĂlia jĂĄ nĂŁo era mencionado, jazia no chĂŁo e, chorando, estendia seus braços para essa neta. Ela inclinou-se para ele e lhe disse: âQuerido avĂŽ, eu o vejo, eu o amoâ. Posteriormente, se abraçaram fortemente. Despois de um tempo, ele a soltou e fechou os olhos. Aqui, foi possĂvel recuperar um movimento que era importante para ele, e que para ele e para sua neta foi concluĂdo.
Os indivĂduos, tanto no campo das vĂtimas como no dos perpetradores, isto Ă©, os descendentes de vĂtimas e de perpetradores, podem conseguir, dentro do seu campo, o vĂnculo reconciliador com seus ancestrais incluindo-os, cada um por separado, com amor no seu olhar, e permitindo que estes tambĂ©m os incluam no seu olhar. Neste caso, surge um movimento, primeiro desde os ancestrais para seus descendentes, e posteriormente destes para seus ancestrais.
Os descendentes esperam com respeito e humildade o movimento dos ancestrais. Assim, preservam a ordem conforme a qual os antepassados estavam antes que eles e, portanto, por cima deles. NĂŁo obstante, isso supĂ”e que os descendentes deixaram atrĂĄs a diferenciação entre o bem e o mal e entre os perpetradores e as vĂtimas, e que respeitam os destinos dos seus ancestrais tal como foram, destinos de vĂtimas, ou de perpetradores, ou de vĂtimas e perpetradores ao mesmo tempo. Para isso, olham alĂ©m dessas distinçÔes, olham para as verdadeiras forças que regem sobre nossos destinos, forças que nĂŁo diferenciam quem foram individualmente e qual foi seu destino.
Bert Hellinger, 2005.